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Artigo na Nature Communications mostra que a capacidade de remoção de carbono pelas florestas secundárias na Amazônia é ameaçada por mudanças climáticas e distúrbios humanos

Um consórcio internacional de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) e das Universidades Britânicas de Bristol, Cardiff e Exeter publicaram hoje um novo estudo na revista Nature Communications. Os autores concluíram que o Brasil possui um grande potencial para ...
publicado: 20/03/2021 14h04 última modificação: 20/03/2021 14h19

Um consórcio internacional de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) e das Universidades Britânicas de Bristol, Cardiff e Exeter publicaram hoje um novo estudo na revista Nature Communications. Os autores concluíram que o Brasil possui um grande potencial para mitigar as emissões de carbono atmosférico do país por meio do crescimento das florestas secundárias na Amazônia Brasileira, contudo esta solução baseada na natureza pode ser ameaçada pelas mudanças climáticas e por distúrbios florestais associados a atividades humanas na região.

O estudo intitulado “Large carbon sink potential of secondary forests in the Brazilian Amazon to mitigate climate change” liderado pela pesquisadora Viola Heinrich - doutoranda da Universidade de Bristol, foi resultado de seu intercâmbio acadêmico de seis meses no INPE. A visita científica à Divisão de Observação da Terra e Geoinformática foi supervisionada pelo pesquisador e chefe da divisão Luiz Aragão. A realização da pesquisa contou com a colaboração dos pesquisadores doutorandos do curso de Sensoriamento Remoto (PGSER) e pós-doutorandos do laboratório TREES, incluindo Ricardo Dalagnol, Henrique L. G. Cassol, Catherine Torres de Almeida, Celso H. L. Silva Junior, e Wesley A. Campanharo.

O artigo está disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-021-22050-1

Este estudo consolida o domínio de técnicas para a análise de grandes bases de dados de satélites de observação da Terra para modelar e avaliar os efeitos de fatores climáticas, ambientais e humanos na capacidade de crescimento e consequente absorção de carbono atmosférico pelas florestas secundárias. Este conhecimento é crítico para uma avaliação em larga escala do potencial de mitigação das mudanças climáticas e sua aplicação no contexto da gestão ambiental nacional. O estudo se insere no contexto da “Década da Restauração dos Ecossistemas” declarada pelas Nações Unidas em resposta às emergências climáticas e ecológicas.

Distribuição dos ganhos e perdas de carbono de acordo com a regeneração da floresta secundária

Figura do artigo mostrando a distribuição dos ganhos e perdas de carbono de acordo com a regeneração da floresta secundária. A figura também mostra o estoque potencial de carbono capturado da atmosfera caso essas florestas sejam preservadas: (i) em amarelo representando carbono que poderia ser perdido em queimadas, (ii) em laranja por novos desmatamentos, e (iii) em rosa uma combinação de ambos.

Os pesquisadores apresentam duas conclusões principais. A primeira é de que grandes áreas da floresta amazônica estão voltando a crescer em terras que estavam abandonadas após o desmatamento. Estas vegetações em crescimento rápido retiram o dióxido de carbono da atmosfera (CO2), reduzindo os impactos das mudanças climáticas. A preservação dessas áreas em crescimento pode contribuir com um acumulo de 15 milhões de toneladas de carbono por ano até 2030. Este valor equivale a 5% da redução nas emissões de carbono prevista na Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil à ONU.

Os autores também concluíram que o crescimento destas Florestas Secundárias é duas vezes maior no oeste da Amazônia brasileira do que no leste. Esse efeito ocorre em parte devido a condições ambientais, mas também por distúrbios humanos, como fogo e degradação, de acordo com as novas descobertas publicadas no artigo.

 “De forma simples, o que isso quer dizer é que as florestas secundárias – aquelas que crescem nas áreas desmatadas e abandonadas – podem ter grande contribuição para o sequestro de carbono e ajudar combater as mudanças climáticas”, disse Ricardo Dalagnol, coautor do estudo. A autora principal Viola Heinrich, afirma que “Os resultados mostram os fortes efeitos do clima e de fatores humanos na regeneração, enfatizando a necessidade de proteger e expandir as áreas de floresta secundária para que tenham um papel significativo na luta contra as mudanças climáticas”.

 

Distribuição espacial do crescimento da floresta secundária na Amazônia Brasileira

Figura mostrando a distribuição espacial do crescimento da floresta secundária na Amazônia Brasileira. As cores das molduras dos quadros referem-se as diferentes regiões da Amazônia, representadas pelas cores no mapa da região central da figura. A figura mostra que na região noroeste a floresta cresce em maior velocidade, enquanto que na região sudoeste ela cresce menos velocidade. Os fatores ambientais e climáticos influenciam nesses padrões, incluindo pressões antrópicas principalmente na região sudoeste. Florestas sem distúrbio (barrinha cor roxo escuro) crescem mais rápido, enquanto florestas afetadas por fogo ou mais ciclos de desmatamento e degradação tem sua taxa de crescimento reduzida (cor roxo claro).

Globalmente, espera-se que as florestas contribuam com um quarto da mitigação prometida no Acordo de Paris de 2015, limitando o desmatamento e encorajando a regeneração florestal. Muitos países comprometeram-se em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) em restaurar e reflorestar milhões de hectares de terra em uma tentativa de ajudar a atingir as metas do Acordo de Paris. Até recentemente, este acordo incluía o Brasil, que em 2015 se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares, uma área aproximadamente igual à da Inglaterra.

“Parte desse reflorestamento pode ser obtido com a regeneração natural de florestas secundárias, que ocupam quase 4% da área da floresta amazônica e absorvem carbono até 11 vezes mais rápido do que as florestas primárias”, diz Heinrich. “A atividade humana, como o fogo e a degradação, no entanto, pode reduzir a taxa de regeneração e, portanto, o carbono absorvido pelas florestas secundárias”, complementa a autora.

A próxima etapa do estudo será focada na aplicação destes métodos para estimar o crescimento de florestas secundárias nos trópicos. O coautor Luiz Aragão, explica que este tipo de colaboração internacional é crucial para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos jovens pesquisadores, estudantes da pós-graduação do INPE, permitindo estudos complexos, e na ponta do conhecimento científico. Para Aragão “as florestas secundárias são um dos principais componentes para mitigar as emissões de gases de efeito estufa por meio de soluções baseadas na natureza. Nos trópicos, várias áreas improdutivas e sem aptidão agrícola poderiam ser regeneradas para a remoção do CO2 da atmosfera. O Brasil deve ser o país tropical com maior potencial para esse tipo de iniciativa, que pode gerar renda aos proprietários de terras, restabelecer os serviços ecossistêmicos e consolidar a liderança do país como um líder global no combate às mudanças climáticas”. A pesquisadora do Cemaden, Liana Anderson, coautora do estudo complementa: “A identificação e entendimento dos fatores que influenciam o crescimento das nossas florestas secundárias, de forma espacialmente explicita, permite que estratégias e priorizações de ações para mitigar as ameaças à estas florestas, como por exemplo os incêndios florestais, sejam realizados pelas autoridades. Não podemos perder a oportunidade de utilizar a ciência que produzimos para que o desenvolvimento do país corra de forma mais sustentável”.