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Estudo mapeia perda não contabilizada de vegetação não florestal na Amazônia Brasileira

O Artigo Unaccounted for nonforest vegetation loss in the Brazilian Amazon (tradução: Perda não contabilizada de vegetação não florestal na Amazônia Brasileira) foi publicado na Revista Communication Earth & Environment. O Artigo é resultado de um trabalho científico e técnico, iniciado em 2021, desenvolvido por muitas pessoas que atuaram em diferentes frentes. Os 47 autores são: Cassiano Gustavo Messias, Cláudio A. de Almeida e col. A síntese do Artigo é disponibilizada...
publicado: 22/08/2024 16h38 última modificação: 22/08/2024 17h15

O Artigo Unaccounted for nonforest vegetation loss in the Brazilian Amazon (tradução: Perda não contabilizada de vegetação não florestal na Amazônia Brasileira) foi publicado na Revista Communication Earth & Environment. O Artigo é resultado de um trabalho científico e técnico, iniciado em 2021, desenvolvido por muitas pessoas que atuaram em diferentes frentes. Os 47 autores são: Cassiano Gustavo Messias, Cláudio A. de Almeida, Daniel E. Silva, Luciana S. Soler, Luis E. Maurano, Vagner L. Camilotti, Fábio C. Alves, Libério J. da Silva, Mariane S. Reis, Thiago C. de Lima, Vivian Renó, Deborah L. C. Lima, Amanda P. Belluzzo, Camila B. Quadros, Delmina C. M. Barradas, Douglas R. V. de Moraes, Eduardo F. M. Bastos, Igor P. Cunha, Jefferson J. de Souza, Lucélia S. de Barros, Luiz Henrique A. Gusmão, Rodrigo de Almeida, Dayane R. V. de Moraes, Diego M. Silva, Eduardo H. S. Chrispim, João Felipe S. K. C. Pinto, Manoel R. Ribeiro Neto, Marlon Henrique H. Matos, Noeli Aline P. Moreira, Raíssa C. dos S. Teixeira, Gabriel M. R. Alves, Ana Carolina S. de Andrade, Letícia P. Perez, Bruna Maria P. Bento, Hugo C. de Castro Filho, Igor S. dos Santos, Liliane Cristina L. de Araújo, Maira Matias, Murilo B. da Silva, Fábio da C. Pinheiro, André Carvalho, Haron Xaud, Maristela Xaud, Ana Paula Matos, Luis Baumann, Elaine B. da Silva, Laerte Guimarães Ferreira & Marcos Adami.

A referência para o Artigo é:

Messias, C.G., de Almeida, C.A., Silva, D.E. et al. Unaccounted for nonforest vegetation loss in the Brazilian Amazon. Commun Earth Environ 5, 451 (2024). https://doi.org/10.1038/s43247-024-01542-0

E está disponível em: https://www.nature.com/articles/s43247-024-01542-0

A síntese do Artigo está disponibilizada abaixo:

A Amazônia brasileira, mundialmente conhecida como a maior floresta tropical, enfrenta uma ameaça frequentemente negligenciada: a perda de vegetação natural não florestal. Essa vegetação inclui savanas, campinas, áreas sazonalmente alagadas e ecótonos, entre outras formações naturais (Figura 1). Embora menos conhecidas, essas áreas são cruciais para a conservação da biodiversidade, incluindo espécies endêmicas, e para a provisão de serviços ecossistêmicos essenciais. A falta histórica de mapeamento e monitoramento adequados dessas áreas contribuiu para subestimar sua importância e vulnerabilidade.

Tipos de vegetação não florestal observados no estado de Roraima, Brasil. Imagens: Cassiano G. Messias.

Figura 1. Tipos de vegetação não florestal observados no estado de Roraima, Brasil. Imagens: Cassiano G. Messias.

No estudo publicado por pesquisadores do Instituto, Unaccounted for nonforest vegetation loss in the Brazilian Amazon (Perda não contabilizada de vegetação não florestal na Amazônia Brasileira), publicado na revista Communications Earth & Environment, foram analisados dados históricos para quantificar e compreender a perda em áreas não florestais na Amazônia, que são igualmente vitais para a biodiversidade e os ecossistemas regionais. O resultado do trabalho é uma extensão do sistema de monitoramento PRODES, que monitora a Floresta Amazônica desde 1988, para incluir também ecossistemas não florestais, denominado PRODES NF, que mapeou a perda nesses ecossistemas até o ano de 2022. Esta é a primeira vez que uma série histórica consistente das formações não florestais da Amazônia foi mapeada, cobrindo uma área de 279.492,08 km², equivalente a 6,6% do bioma amazônico.

Principais resultados

Perda total: A perda total de vegetação natural não florestal até 2022 foi de 29.247,44 km², representando 10% da área mapeada (279.492,08 km²). Mais da metade dessas perdas ocorreu nas últimas duas décadas.

Altas taxas de supressão: A pesquisa revelou taxas alarmantemente altas de perda em áreas de vegetação natural não florestal, refletindo um padrão semelhante ao observado nas florestas amazônicas. As perdas foram impulsionadas pela expansão agrícola para novas fronteiras (Figura 2), como resultado do desenvolvimento de infraestrutura, como estradas e portos.

Impacto das políticas públicas: Políticas públicas como a Moratória da Soja e o Acordo da Carne, que visam restringir o desmatamento em áreas florestais, podem ter inadvertidamente incentivado a expansão dessas atividades em áreas de vegetação natural não florestal. Essas políticas não monitoram essas áreas, permitindo que a conversão agrícola prossiga sem a devida supervisão.

Baixa proteção legal: Apenas uma pequena fração das áreas de vegetação natural não florestal está protegida por unidades de conservação ou terras indígenas. Essa falta de proteção legal torna essas áreas extremamente vulneráveis a pressões antrópicas ocorrendo na região, como extração de areia e expansão agrícola.

Tendências geográficas: As perdas mostraram uma tendência de deslocamento do sul para o norte do bioma, concentradas em três hotspots: Mato Grosso (no sul), com perdas predominantemente mais antigas, e (no norte) em Roraima e Amapá, com perdas mais recentes.

Savanas mais afetadas: As perdas ocorreram principalmente nas savanas (27,72% da área mapeada), que perderam 13,23% de sua área.

Perdas em tipos de vegetação não florestal no estado de Roraima, Brasil, devido à expansão das atividades agrícolas. Imagens: Cassiano G. Messias.

Figura 2. Perdas em tipos de vegetação não florestal no estado de Roraima, Brasil, devido à expansão das atividades agrícolas. Imagens: Cassiano G. Messias.

O estudo mostra que a vegetação natural não florestal da Amazônia brasileira é tão ameaçada quanto as florestas, enquanto carece de mecanismos de proteção semelhantes. Portanto, essas áreas requerem políticas de proteção e monitoramento urgentes e rigorosas. Para mitigar essa perda, os autores recomendam:

Expansão da proteção legal: Inclusão de mais áreas de vegetação natural não florestal em unidades de conservação e Terras Indígenas.

Monitoramento contínuo: Financiar, manter e expandir programas governamentais e civis de monitoramento para incluir vegetação natural não florestal.

Políticas públicas abrangentes: Ajustar as políticas públicas para tratar especificamente da proteção das áreas de vegetação natural não florestal, garantindo que acordos como a Moratória da Soja e o Acordo da Carne também abranjam essas áreas.

Impacto e Perspectivas Futuras

Os achados do estudo destacam a urgente necessidade de uma abordagem mais inclusiva e abrangente para a conservação da Amazônia. Ao destacar a questão da perda de vegetação natural não florestal, o estudo abre caminho para futuras pesquisas e desenvolvimento de políticas que possam integrar efetivamente a conservação dessas áreas negligenciadas. A implementação das recomendações propostas não apenas ajudará a preservar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos das áreas naturais não florestais, mas também fortalecerá a resiliência ecológica da Amazônia como um todo.

Reconhecer e abordar a perda de vegetação natural não florestal são passos críticos para garantir um futuro sustentável para a Amazônia e para o planeta. Este estudo serve como um chamado à ação para pesquisadores, formuladores de políticas e a sociedade em geral, enfatizando a interconectividade de todos os componentes do bioma amazônico e a necessidade de uma proteção integrada e abrangente.

Contato para informações adicionais: claudio.almeida@inpe.br; cassianomessiaslavras@gmail.com.