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Florestas a serviço do clima: Estudo aponta os benefícios climáticos de manter regiões da Amazônia com alta cobertura florestal

Estudo recém publicado avalia como o desmatamento acumulado na Amazônia já pode ter contribuído para mudar o clima nas regiões desmatadas, em comparação às regiões vizinhas com alta cobertura florestal...
publicado: 27/11/2025 11h43 última modificação: 28/11/2025 09h42

Estudo recém publicado avalia como o desmatamento acumulado na Amazônia já pode ter contribuído para mudar o clima nas regiões desmatadas, em comparação às regiões vizinhas com alta cobertura florestal. O trabalho analisou o impacto do desmatamento em diferentes variáveis climáticas, períodos sazonais, e níveis de cobertura florestal, a partir de dados baseados em observações de satélites. O artigo, intitulado “Observed shifts in regional climate linked to Amazon deforestation”, foi publicado na revista Communications Earth & Environment, liderado por Marcus Silveira (pós-doc INPE, Laboratório TREES - DIOTG) com a colaboração de pesquisadores brasileiros e internacionais de diferentes instituições (INPE, UFRGS, USP, UFV, Univ. de Boston, Univ. de Exeter).

De acordo com as projeções climáticas, a Amazônia está entre as regiões que mais serão afetadas pelo aumento do calor extremo e os impactos na biodiversidade e na saúde humana. Temperaturas extremas já vêm sendo frequentemente registradas na região nos últimos anos. Além do efeito direto das mudanças climáticas globais, o desmatamento na Amazônia, por si só, pode contribuir para amplificar os efeitos dessas mudanças a nível regional. Diante dos mais de 59 milhões de hectares já desmatados na Amazônia desde 1985, de acordo com dados do MapBiomas Amazonia, uma área maior que a Alemanha, o estudo buscou entender os impactos climáticos desse desmatamento, a fim de demonstrar o potencial da Floresta Amazônica em prestar serviços de regulação do clima.

O estudo indica que o desmatamento acumulado na Amazônia contribuiu para aumentar a temperatura da superfície, diminuir a evapotranspiração, reduzir a chuva da estação seca, e diminuir o número de dias de chuva, em relação às regiões vizinhas com cobertura florestal acima de 80%. Os maiores impactos foram observados nas regiões altamente desmatadas, aquelas com cobertura florestal inferior a 60%. Nestas regiões, durante a estação seca, a temperatura de superfície foi em média 3 °C maior do que nas regiões vizinhas com alta cobertura florestal, enquanto a evapotranspiração foi 12% menor, e a quantidade de chuva 25% menor. Devido a estes impactos climáticos, as regiões altamente desmatadas tendem a apresentar características climáticas semelhantes às de regiões de transição entre florestas e savanas, o que não se observa nas regiões com alta cobertura florestal. Tal processo pode prejudicar a sobrevivência de espécies florestais menos tolerantes a condições mais quentes e secas nas regiões altamente desmatadas, favorecendo a degradação das florestas remanescentes.

Os resultados do trabalho reforçam a importância das florestas tropicais em regular o clima das regiões onde ocorrem, contribuindo para uma melhor adaptação às mudanças climáticas nessas regiões. Manter a cobertura florestal em 80% nas propriedades rurais da Amazônia, como recomenda o Código Florestal, garante a integridade dos benefícios climáticos para as atividades econômicas que dependem diretamente do clima, como a agricultura. Isso também é o que aponta um relatório recentemente publicado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que contou com a colaboração de diversos autores brasileiros, incluindo o Dr. Silveira. O relatório apresenta uma síntese dos benefícios das florestas e das árvores para a agricultura, com base na revisão da literatura científica sobre o tema.

Silveira aponta que “apesar da falta de consenso na COP30 para levar adiante um Mapa do Caminho para zerar o desmatamento ilegal, o Brasil precisa dar o seu exemplo e se comprometer seriamente em colocar a ideia em prática, já que esta é uma das principais soluções baseadas na natureza para reduzir os impactos das mudanças climáticas na sociedade e ecossistemas Amazônicos”. Para o Dr. Luiz Aragão (INPE), um dos autores do trabalho e supervisor do estudo, “não há mais como adiarmos ações para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, particularmente combustíveis fósseis. A ciência, com novas tecnologias computacionais, satélites e grandes bases de dados, nos traz cada vez mais informações robustas, alertando sobre o perigo ao bem-estar social, à estabilidade econômica e à segurança hídrica, energética e alimentar do país se continuarmos na atual rota de desenvolvimento”.

O estudo está disponível gratuitamente e pode ser acessado por meio do link abaixo:
https://doi.org/10.1038/s43247-025-02900-2

Já o relatório da FAO pode ser acessado por meio do link:
https://doi.org/10.4060/cd7599en

 

Regiões de floresta úmida (em cinza) na Amazônia e sua semelhança com o clima das savanas amazônicas.

Regiões de floresta úmida (em cinza) na Amazônia e sua semelhança com o clima das savanas amazônicas.