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Nota LabISA: Sensoriamento remoto e o monitoramento de áreas de mineração em rios – o caso do Rio Madeira

O Laboratório de Instrumentação de Sistemas Aquáticos – LabISA / DIOTG / INPE emitiu a Nota Técnica abaixo sobre a possibilidade do uso do sensoriamento remoto para investigar e monitorar a ocorrência de mineradores nos rios, como exemplificado para o Rio Madeira: Recentemente, centenas de mineradores tomaram as águas do Rio Madeira, em localidade próxima à cidade de Autazes, ...
publicado: 29/11/2021 17h14 última modificação: 30/11/2021 12h05

O Laboratório de Instrumentação de Sistemas Aquáticos – LabISA / DIOTG / INPE emitiu a Nota Técnica abaixo sobre a possibilidade do uso do sensoriamento remoto para investigar e monitorar a ocorrência de mineradores nos rios, como exemplificado para o Rio Madeira:

Recentemente, centenas de mineradores tomaram as águas do Rio Madeira, em localidade próxima à cidade de Autazes, no interior do Amazonas, distante 100 km de Manaus. Estes mineradores foram atraídos para o local após vários rumores de um grande depósito de ouro no rio. As estimativas iniciais dão conta de cerca de 300 balsas colocadas em um trecho do rio, sem nenhum tipo de licença ambiental e operando à luz do dia. É claramente notável que a mineração de ouro exerce um importante papel dentro da economia local e regional na Amazônia. Porém, seu aumento indiscriminado coloca em risco à saúde da população e o meio ambiente. Esse risco vem do método de extração do ouro, em que é usado mercúrio, e do revolvimento do sedimento de fundo, quando as dragas são utilizadas.

A fiscalização ambiental na Amazônia vem ficando cada vez mais precária por conta da desarticulação das políticas públicas de preservação do meio ambiente e dos cortes sucessivos do orçamento, com consequente enfraquecimento da atuação dos órgãos responsáveis pela fiscalização e autuação, como o ICMBIO, IBAMA, Polícia Federal, Ministério Público, ou mesmo órgãos estaduais de meio ambiente. Ações de vândalos e atentados contra os servidores destes órgãos são algumas das técnicas usadas por garimpeiros para frear ainda mais a fiscalização ambiental na região e intimidar servidores e pesquisadores. Um exemplo é o escritório do IBAMA em Humaitá (AM), localizado às margens do Rio Madeira, que foi incendiado quatro anos atrás e ainda permanece fechado. Essas medidas diminuem a possiblidade de fiscalização ambiental, aumentando o índice de garimpos ilegais.  Nesse sentido, métodos de fiscalização, repressão à atividade ilegal e alternativas econômicas para a população local devem ser empregadas.

Dentre as possiblidades de monitoramento existentes, a principal utilizada consiste no uso de barcos ao longo do rio e de sobrevoos com aeronaves. Entretanto, este tipo de fiscalização é caro e requer a mobilização de grandes equipes, o que dificulta ações de monitoramento em grande escala na Amazônia. Neste sentido, uma alternativa promissora de fiscalização é o uso de sensoriamento remoto para o monitoramento de balsas ilegais. Técnicas de sensoriamento remoto já são usadas há mais de 30 anos no combate ao desmatamento ilegal na Amazônia, porém, ainda não são utilizadas para monitoramento de mineração ilegal nos rios da bacia. Entretanto, apesar da utilização de sensores ópticos no combate ao desmatamento, a quantidade de nuvens na floresta Amazônica é um empecilho importante ao monitoramento de balsas ilegais. Assim, sensores SAR podem ser utilizados para “passar pelas nuvens” e enxergar atividades que não podem ser vistas sob as nuvens com imagens ópticas. Imagens gratuitas disponíveis possuem tempo de revisita de cerca de 10 dias, possiblidade um monitoramento com frequência relativamente grande.

No caso do Rio Madeira, imagens provenientes do Satélite Sentinel-1 mostram o avanço das dragas de mineração no Rio Madeira. Estimativas apontam cerca de 300 balsas. Este tipo de dado pode ser útil para que governos e órgãos ambientais possam monitorar e fiscalizar esse tipo de área. Na Figura 1, pode-se observar que no dia 11/11/2021 não existiam pontos brancos dentro do canal do Rio. Entretanto, na imagem do dia 22/11/2021, esses pontos brancos (identificados como dragas) aparecem. Essas dragas são só passíveis de visualização nas imagens SAR, já que, nesta mesma época, a cobertura de nuvens não possibilitou a identificação das barcaças nas imagens ópticas. A imagem abaixo (Figura 1) é na mesma localidade de onde foi visualizado as principais fotos vinculadas na mídia.

 Imagens Sentinel-1 de 12 e 22/11/2021 no Rio Madeira/AM

Figura 1 Imagens Sentinel-1 polarização VV obtidas em 12/11/2021 e 22/11/2021 no Rio Madeira (AM).

 

 

 Balsas no Rio Madeira/AM (site: G1)

Figura 2 Balsas no Rio Madeira. Fonte: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/11/24/dezenas-de-balsas-de-garimpo-ilegal-atracam-no-rio-madeira-no-am.ghtml

 

Em outra iniciativa, foram identificados em média 300 balsas ao longo do rio Madeira e 14 balsas ao ano ao longo do rio Tapajós entre 2016 e 2020. A distribuição das balsas pode ser visualizada na Figura 3, onde é mostrado o somatório de pontos de balsa de 2016 a 2020 e a densidade desses pontos para o rio Madeira (Figura 3.a). É possível observar locais em que há uma maior concentração de pontos identificados como balsas. É suposto que essas regiões possuem maior concentração de balsas em razão de possuírem maior concentração de ouro no leito do rio (gerando maiores rendimentos), ou em razão de estarem próximas a centros urbanos (o que diminui os custos de deslocamento). Na figura 2. (à direita), por exemplo, existe uma alta concentração de balsas próximo ao município de Porto Velho, indicando facilidade de deslocamento até este local.

 

 Ocorrências de balsas no Rio Madeira/AM

Figura 3 Ocorrências de balsas na região do Rio Madeira obtidas usando imagens Sentinel-2