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Pesquisa publicada no periódico Frontiers in Remote Sensing analisou 25 anos de dados multissensores no estudo da variabilidade da concentração de clorofila-a na superfície do mar sobre a Margem Continental Sudeste Brasileira
O artigo "Spatiotemporal variability of chlorophyll-a concentration in the South Brazil Bight using 25 years of multi-sensor orbital data (1998–2022)" é resultado da colaboração entre pesquisadores do Laboratório Multiusuário de Monitoramento Oceânico por Satélite (MOceanS), da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG), Coordenação Geral de Observação da Terra (CGCT), INPE, Brasil, e do Laboratoire d'Océanologie et de Géosciences (LOG/CNRS/IRD/ULille/ULCO), França. O estudo analisou 25 anos de dados de múltiplos sensores no estudo da variabilidade da concentração de clorofila-a na superfície do mar (CSM) na Margem Continental Sudeste Brasileira (MCSB).
Variações na CSM são associadas à dinâmica oceânica e atmosférica, sendo definida como variável essencial para estudos climáticos. Dessa forma, a variabilidade na CSM pode ser utilizada com um proxy para identificar regiões onde as mudanças na dinâmica e nos padrões oceânicos e atmosféricos estão influenciando o ambiente marinho.
Foram utilizadas composições mensais da CSM calculadas de dados diários obtidos do projeto Ocean Colour Climate Change Initiative (OC-CCI), da Agência Espacial Europeia (ESA), entre 1998 e 2022. Foram aplicados métodos de decomposição da série temporal de CSM mensal pela técnica do Census X11 e análises de tendência de Mann-Kendall e Sens’ slope.
Foram selecionadas quatro regiões na MCSB que apresentaram diferentes padrões de variabilidade temporal da CSM mensal com base no coeficiente de variação e na contribuição relativa das componentes interanual, sazonal e irregular. A análise pixel-a-pixel se mostrou eficaz para diferenciar as regiões dentro da MCSB, sendo uma abordagem diferenciada de estudos anteriores onde a MCSB é regionalizada de acordo com características físicas, geológicas e cartográficas, entre outros.
Os resultados desse trabalho mostram que a CSM em oceano aberto diminuiu 11% em 25 anos (1998-2022), enquanto as regiões norte e sul da região de estudo tiveram um aumento de 14% e 8%, respectivamente, no mesmo período. A diminuição da CSM em oceano aberto foi associada à tendência de aumento na temperatura da superfície do mar (TSM), que intensifica a estratificação térmica, expandindo a área e o tempo de permanência das regiões oligotróficas.
O aumento na concentração da CSM na plataforma continental a norte da região de estudo foi relacionado com a intensidade da Corrente do Brasil e a prevalência dos ventos de N-NE influenciados pelo deslocamento da Alta Subtropical do Atlântico Sul e dos ventos de leste de médias latitudes na direção sul (associado à fase positiva do Modo Anular Sul). Estes contribuem para a ocorrência de eventos de ressurgência mais longos e frequentes, disponibilizando nutrientes da Água Central do Atlântico Sul em camadas mais superficiais, incrementando a produção primária. Na plataforma continental mais a sul, a tendência de aumento da CSM foi associada ao transporte da Corrente do Brasil em direção S, que intensifica a ressurgência de quebra de plataforma. O aquecimento da TSM na frente onshore da Corrente do Brasil influencia eventos extremos de precipitação na bacia do Rio da Prata, aumentando também, a fertilização da plataforma continental pelo runoff continental (Figura 1).
O estudo completo pode ser acessado online em < https://doi.org/10.3389/frsen.2025.1544375>.
Figura 1. Infográfico com os principais processos associados à variabilidade da concentração de clorofila-a na superfície do mar (CSM) em quatro regiões selecionadas na Margem Continental Sudeste Brasileira. (BC: Corrente do Brasil; Plat.: plataforma continental; TSM: temperatura da superfície do mar.